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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Estrada do Colono, tesoura que parte Iguaçu pela metade


Onça atropelada na BR-469, que leva os turistas às Cataratas do Parque Nacional do Iguaçu. Estimativas eram de que, em abril de 2009, existiam cerca de dez indivíduos na unidade. Será que precisamos de mais uma estrada? (Foto: Acervo/Parque Nacional do Iguaçu).


Nunca poderíamos imaginar que o Parque Nacional mais famoso, melhor manejado e mais visitado do Brasil, com um milhão de turistas por ano, proposto por Santos Dumont em 1919 e o segundo criado no país em 1939, fosse novamente estar ameaçado. Mas estávamos equivocados. O Projeto de Lei 7.123/2010 do deputado Assis do Couto (PT-PR), propõe a reabertura da Estrada do Colono, que corta ao meio o Parque Nacional do Iguaçu e põe em risco a pequena ilha de mata já perdida num oceano de atividades agropecuárias intensivas. Se essa estrada for reaberta é provável que centenas de animais morram atropelados a cada ano. Além disso, a UNESCO pode retirar o Parque da lista de Patrimônio Mundial Natural.
A “Estrada do Colono”, conforme ficou conhecida, é um antigo caminho que foi precariamente transformado em estrada por volta de 1950 e que operou até os anos 1980. O IBDF, então responsável pelo Parque, sempre considerou que essa estrada era um risco grande demais para o Parque e procurou por anos seu fechamento, levando em conta que apesar de estar num parque nacional, o uso da estrada facilitava a caça predatória, a extração ilegal de madeira e, em especial, a destruição dos palmitais. Além disso, a estrada interrompia a movimentação da fauna e aumentava o risco de incêndios florestais. Finalmente, em 1986, o Ministério Público Federal obteve o fechamento da Estrada do Colono. 
Desde então, a comunidade local promoveu invasões para reabri-la. As mais importantes invasões foram em 1997 e em 2001 e, em cada caso, a força pública restabeleceu a ordem. A última reabertura da estrada ocorreu há poucos anos quando mais de 250 pessoas, bem articuladas e organizadas, ocuparam a área que já estava praticamente retomada pela vegetação. Entraram com tratores, derrubaram a vegetação e destruíram a guarita do IBAMA. O Instituto conseguiu na justiça reaver a posse da área e montou uma operação com 300 homens da Polícia Federal para retomar o controle do Parque. A situação foi normalizada uma semana depois com a retirada dos invasores, que resultou, outra vez, no fechamento da estrada. Com essa operação, o IBAMA conseguiu garantir a integridade do Parque do Iguaçu e evitar a iminente perda do título de Patrimônio Natural Mundial concedido pela UNESCO.

A Estrada

"Os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul transformaram, na década passada, as suas transpantaneiras em Estradas Parque (...) As duas são apenas estradas em péssimo estado de conservação e sem nenhuma atividade ou ação de conservação da natureza. (...) São uma vergonha e não exemplos."
A “Estrada do Colono” pode ser considerada como o primeiro trecho de 17,6 km da Rodovia PR-495, que une Serranópolis do Iguaçu, na divisa norte do Parque Nacional à localidade de Iguiporã em Marechal Cândido Rondon. Sem ela, a distância rodoviária entre as cidades de Medianeira e Capanema aumenta de 58 km para mais de 170 km (utilizando-se as rodovias BR-277, PR-182 e PR-582). Para propiciar alternativas de desenvolvimento à região de Capanema, o Governo do Paraná inaugurou, em 1994, a Ponte Internacional sobre o rio Santo Antônio, uma ligação rodoviária com a Argentina, o que encurta significativamente a viagem. Mas os habitantes da região continuaram reclamando a reabertura da antiga estrada. 
A sentença da juíza federal Pepita Durski Tramontini Mazini, que em 2007 declarou a última invasão ilegal é, em teoria, o ponto final da polêmica que se arrastou por 21 anos. Para inibir novas tentativas de ocupações, a juíza fixou “multa diária de R$10 mil para cada município incentivador de uma eventual nova invasão da Estrada do Colono” e determinou que a população local respeitasse a sentença da ação pública, que foi movida pelo Ministério Público Federal. Ao IBAMA, hoje ICMBio, a juíza determinou a elaboração de plano de recuperação da área degradada pela Estrada do Colono a ser apresentado em 120 dias após o trânsito em julgado da ação civil. Apesar desta sentença, o deputado Assis do Couto, insiste agora no Congresso na reabertura da estrada.

Cataratas do Iguaçu (Foto: Marcos Sá Corrêa)

O Projeto de Lei do deputado pretende dourar a pílula ao propor a criação de uma “Estrada Parque” e, como era de se esperar, pretende garantir sua conformidade com todas as medidas de proteção ao ambiente imagináveis, inclusive estudo de impacto ambiental, passagens especiais para animais, registro de veículos e limites de velocidade. Indica até que a estrada seria de uso exclusivo para veículos de passeio e camionetes ou veículos turísticos. Insiste na importância da estrada para o turismo rural e muitos outros aspectos que são, corretamente, aplicáveis a “Estradas Parque”. Na verdade, o deputado Assis do Couto fez um bom trabalho de revisão do que é ou deve ser uma Estrada Parque. No entanto, a categoria nem existe na legislação federal.
"É evidente, evidentíssimo para quem não pretenda ser cego, que os agricultores dos arredores do Parque não querem a estrada para passear aos domingos. Eles querem a estrada para transportar seus produtos."
Fora a infração da lei, a realidade de operação de uma Estrada Parque é complexa. Um aspecto é referente à capacidade do governo, ou do ICMBio para implementar e aplicar as regras de uso. Por exemplo, os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul transformaram, na década passada, as suas transpantaneiras em Estradas Parque. Porém, elas só existem no papel. Há poucas semanas tive pessoalmente a ocasião de visitá-las. As duas são apenas estradas em péssimo estado de conservação e sem nenhuma atividade ou ação de conservação da natureza. Não vi nenhum guarda-parque nelas. São uma vergonha e não exemplos como diz, nas suas considerações, o deputado Assis do Couto. 

Estradas Parque

As Estradas Parque são fragrantemente contra a legislação que dispõe sobre Parques Nacionais, a conhecida Lei do SNUC de 2000. De outra parte, o problema é que esse tipo de via, por definição técnica e por simples lógica, não pode ser estabelecido dentro de um parque nacional ou dentro de qualquer outra unidade de conservação. No caso do Parque Nacional do Iguaçu, o efeito de reabrir a Estrado do Colono como Estrada Parque seria dramático. Automaticamente ele ficaria dividido em duas metades. Ainda a Constituição de 2008 também proíbe em seu artigo 225 que se transforme parte ou a totalidade de uma unidade de conservação mais restrita em uma menos restrita, o que seria o caso se existisse a categoria Estrada Parque no país. Mas, como dito, não existe.


Periquitos no Parque Nacional do Iguaçu. (Foto: Marcos Sá Corrêa)

Seria bom que existisse a categoria Estrada Parque. Mas onde elas existem são uma categoria per se de unidade de conservação, que demanda uma área de influência ao seu redor. Nos parques dos países onde a lei é respeitada existem estradas asfaltadas para o acesso sem ocasionar grandes problemas ao ecossistema. Por elas podem circular os vizinhos, além dos visitantes. No entanto, ninguém abusa da velocidade, ninguém caça os animais nem coleta palmito ou entra na mata para tirar madeira nobre. Nelas não se estabelecem vendedores de refrigerantes e borracharias clandestinas nem tampouco circulam caminhões carregados de soja ou de contrabando. O que se quer dizer com isso é que fazer uma estrada dentro do Parque Nacional do Iguaçu, nas condições atuais seria um desastre para o Parque e para a única floresta preservada de tamanho razoável que ainda sobrevive no sul do país. Pior ainda. É evidente, evidentíssimo para quem não pretenda ser cego, que os agricultores dos arredores do Parque não querem a estrada para passear aos domingos. Eles querem a estrada para transportar seus produtos. Isso significa que apenas construída a estrada, eles obterão progressivamente o direito de usá-la do modo que lhes melhor convier. Alguém duvida disso?
"O caso da rodovia BR 471 (...) também foi apresentado. O chefe da Estação, Henrique Horn Ilha mostrou que só no último ano foram atropelados e mortos 743 animais, uma média de dois por dia, sendo 69% de mamíferos, 19% de répteis e 12% de aves. Desses, 423 eram capivaras, mas havia também lontras e outras espécies ameaçadas de extinção."
“Estudos comprovam que o impacto se dá num raio de dois quilômetros a partir da margem da rodovia, tanto para um lado como para o outro. Além de afetar fauna e flora, a estrada influi na hidrologia, causa assoreamento dos rios, poluição por lixo e metais pesados, resultantes de acidentes, facilita a invasão de espécies exóticas, que surgem com os grãos caídos das cargas dos caminhões, e ainda incêndios, provocados por motoristas descuidados que soltam pontas de cigarro”, listou. Depois de afirmar que atua há 30 anos na área, Bager disse nunca ter visto um exemplo de rodovia que melhorasse a gestão de unidades de conservação. Ele contestou com veemência as duas principais justificativas apresentadas no projeto de lei para a construção da estrada-parque no Iguaçu – interpretação ambiental e desenvolvimento sustentável da região. “Esses dois pontos são, no mínimo, questionáveis”.
O caso da rodovia BR 471, construída nos anos 1970 e que corta 17 quilômetros da Estação Ecológica do Taim, no Rio Grande do Sul, também foi apresentado. O chefe da Estação, Henrique Horn Ilha, mostrou que só no último ano, foram atropelados e mortos 743 animais, uma média de dois por dia, sendo 69% de mamíferos, 19% de répteis e 12% de aves. Desses, 423 eram capivaras, mas havia também lontras e outras espécies ameaçadas de extinção, ou seja, uma perda irreparável para a biodiversidade. Além desses estragos, segundo Ilha, a estrada produz outros efeitos danosos ao meio ambiente, como a fragmentação dos banhados (ecossistema protegido pela reserva), perturbação e alteração dos habitats da fauna e flora, dá acesso a pescadores e caçadores ilegais, acúmulo de lixo e incêndios na vegetação.


Borboleta encontrada no parque (Foto: Marcos Sá Corrêa)

Foi lembrado que manter a estrada fechada é essencial para a manutenção do Parque Nacional do Iguaçu, na lista do Patrimônio Mundial Natural da UNESCO. Em 1999 a UNESCO degradou o Parque, inscrevendo-o na lista de Patrimônio em Perigo, em razão da reabertura da Estrada do Colono. Somente em 2001, com o fechamento definitivo da Estrada, o Parque foi retirado da lista. Outros lembraram que o Parque acaba de ser selecionado para a etapa final do concurso que vai eleger as Sete Maravilhas da Natureza e que, obviamente, o risco que essa estrada implica o tiraria da lista.

Perigo de Retrocesso

O Parque Nacional já sobreviveu a muitas ameaças. Na década dos anos 1970 ainda tinha duas empresas rurais e 500 famílias de posseiros e pequenos proprietários, que usavam 14.000 hectares da área do Parque. Por inacreditável que possa ser o então IBDF, que precedeu ao IBAMA conseguiu, após muitas lutas e medidas corretas desocupar essa terra dentro do Parque Nacional, retirando sem traumas e com todas as medidas sociais necessárias as pessoas que viviam dentro do mesmo e os colocando junto com o INCRA no projeto agrícola OCOI, onde foram grandes produtores de soja e a mata da área ocupada voltou naturalmente após alguns anos e a tal ponto que não se percebe visualmente onde estão os 14.000 hectares que foram usados ali por agricultores. 
O Parque Nacional do Iguaçu é a única amostra natural da região é um dos seus primeiros motores econômicos. São milhares de empregos que dependem do Parque e são centenas de milhões de dólares que ele gera direta e indiretamente. A prudência é o melhor conselho nesta situação. O Brasil não está preparado para arriscar seu Parque Nacional mais famoso, com outra estrada, mesmo que fosse unicamente de acesso.
Nos argumentos a favor da estrada se fala que os reclamos dos vizinhos afetados pela não existência da estrada têm passado por uma longa maturação. Hoje, eles estariam plenamente conscientes da importância de salvar essa pouca mata que subsiste na região e que, por isso, apenas pretendem canalizar seu interesse pelo turismo rural sustentável e potencializar as suas atividades agropecuárias de tipo orgânico. Pode ser, mas é necessário algo além de palavras como garantia. O que se sabe da atividade agropecuária atual dos interessados não sustenta essas declarações.

Presidente do PV-MS fala sobre o Movimento Campo Grande Sustentável

Em entrevista à rádio Nova FM, nesta segunda-feira (21.11), o vereador Marcelo Bluma (PV) falou sobre o Movimento Campo Grande Sustentável, uma iniciativa do Partido Verde para discutir ações sustentáveis no município, voltadas para as questões ambientais, econômicas e sociais. Bluma, que preside o Partido em Campo Grande, destacou que a sustentabilidade é um conceito moderno “que vem da preocupação de como será o futuro do planeta, o caminho que traçamos e aonde chegaremos”.
Para o parlamentar, a construção de casas, junto com o cimento e o asfalto, por exemplo, têm deixado de lado a manutenção das áreas verdes no município. “Precisamos deixar espaços naturais na nossa cidade, que criam defesas para todos nós”, enfatizou.
Além da preocupação ambiental, Bluma destacou que o Movimento Campo Grande Sustentável também se preocupa com a sustentabilidade econômica no município. “Temos que construir uma economia que alcance empregos sustentáveis, com possibilidade de planos de cargos e carreiras. Precisamos pensar políticas que levem a sociedade a diminuir as desigualdades econômicas”, frisou.
O vereador ainda falou sobre os hábitos de consumo da sociedade gerado pelo sistema capitalista. “Vivemos hoje em uma sociedade onde o ter é melhor que o ser. Uma sociedade assim não é sustentável. Na verdade, nós precisamos ser, ou seja, cultivar nossas amizades, nossa família e conservar as emoções. Temos que adquirir hábitos saudáveis de consumo”, alertou.

Fonte: PV-MS

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Impunidade e falta de preparo facilitam tráfico de animais




Papagaios-verdadeiros apreendidos na maior apreensão contra o tráfico de aves realizada no Sertão de Pernambuco. Foto: Assessoria de Comunicação/IBAMA-PE

“Falta inteligência policial na repressão ao tráfico de animais”, adverte o Marcelo Pavlenco Rocha, presidente da SOS Fauna, uma entidade com 22 anos de atividade no combate a esse crime que troca a biodiversidade de todos por uns trocados a poucos. A crítica que faz ao planejamento das ações é simples: os policiais deveriam considerar a época e os locais onde a captura de animais é mais frequente, para então criar plantões de fiscalização nas estradas que ligam a região fornecedora à região consumidora, os grandes centros urbanos, em especial as feiras de passarinhos ou “feira do rolo”, onde esse comércio ilegal é comum.
A elaboração de estratégias com apoio de biólogos, ornitólogos e outros conhecedores dos ciclos dos animais visados serviria para potencializar o trabalho dos poucos fiscais e policiais especializados no combate ao tráfico da natureza. 
Nas universidades, pessoas que defendem esse tipo de tática. O professor Enrico Bernard, do departamento de Zoologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), orientador de pesquisas sobre o comércio ilegal de aves, confirma que é possível se determinar a região de onde os animais são capturados e também a época do ano em que as ocorrências são maiores. “Esse mapeamento é possível e outros artifícios jurídicos podem ser usados, como a delação premiada”, propõe Enrico Bernard.
O recurso que oferece a um indiciado a chance de reduzir sua pena a partir da sua colaboração nas investigações deixa visível outro problema que o professor Enrico e Marcelo Rocha conhecem: a classificação dos crimes ambientais entre os de menor potencial ofensivo. “Esse recurso é praticamente um estímulo aos criminosos”, critica o presidente do SOS Fauna. Com penas leves, o interesse pela delação é baixo.


Grades, contentores, gaiolas apertadas aprisionam aves que são retiradas da natureza por criminosos que não são reprimidos pela legislação branda. Foto: Assessoria de Comunicação/IBAMA-PE

Marcelo Rocha conta que antes de 1998, estava em vigor a lei federal 5.197 (de 1967) em relação aos crimes contra nossa fauna. A lei punia de maneira rígida, com penas de reclusão e a classificação de crimes inafiançáveis. “Os casos de tráfico de animais somavam 700 apreensões”, aponta. A partir de 1998, com a chegada da lei número 9.605, as penas ficaram mais brandas, esses crimes são considerados de menor poder ofensivo. As apreensões começaram a somar 1.500. “A legislação mudou e a quantidade de crimes dobrou”, resume. Em julho, nova alteração no Código de Processo Penal: os crimes com pena prevista inferior a quatro anos dariam ao réu, sob fiança, o direito de responder aos mesmos em liberdade. 
O professor Enrico Bernard considera o tráfico o sumidouro da biodiversidade nacional. “Em uma pesquisa, estimamos que até 52 mil animais podem ser comercializados em apenas 8 feiras em um ano. E fomos conservadores. Pegue estas estimativas e multiplique pelo número de feiras de bichos que existem pelo Brasil e você vai ter uma idéia do tamanho do estrago”, alerta. “O estrago está sendo subdimensionado”.
Sem impunidade



Captura de animais silvestres na natureza envolve muitas pessoas e caracteriza outro crime, a formação de quadrilha. Foto: Assessoria de Comunicação/IBAMA-PE

Novamente, a utilização da inteligência na investigação e a responsabilização do criminoso seriam, segundo Marcelo Rocha, a melhor forma para se combater o crime de tráfico de animais. “Se retirar filhotes de papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) do seu ninho é um ‘crime menor’ para o judiciário, a formação de quadrilha continua com a pena de reclusão de 1 a 3 anos”, pondera. 
Ele conta que, em parceria do SOS Fauna com agentes da Polícia Federal, um criminoso conhecido foi detido, mas não foi mantido preso. Ao contrário: os policiais conseguiram autorização para se fazer escuta das ligações do celular do suspeito para se localizar os outros envolvidos no transporte dos bichos. Em um segundo momento, todos foram presos por tráfico de animais e, principalmente, formação de quadrilha. “A pena é maior e eles não saem da delegacia para voltar a traficar com tanta pressa”, prega.
Marcelo Rocha conta casos de suspeito detido com grande quantidade de aves nativas, que perde a carga, perde o automóvel que utilizava, mas ganha a liberdade depois de indiciado na delegacia. “Na semana seguinte, em nova operação, o mesmo suspeito foi preso com nova carga”. 
Nesses casos, a major Erika Melcop, comandante da Companhia Independente de Policiamento ao Meio Ambiente (Cipoma) da Polícia Militar de Pernambuco, recomenda o rigor da multa. “Um recurso válido para punir, administrativamente, o criminoso”, diz.
Apreensão de papagaios



Operação do Cipoma e Ibama em Pernambuco apreendeu papagaios-verdadeiro, papagaios-galego e maritacas somando 517 animais retirados das mãos dos traficantes. Foto: Assessoria de Comunicação/IBAMA-PE

Nos meses de setembro e outubro, o Cipoma e o Ibama em Pernambuco foram responsáveis por uma das maiores apreensões de filhotes de papagaio-verdadeiro, papagaio-galegos e maritacas já realizadas, quando foram descobertos em Petrolina, sertão do São Francisco, 517 animais sendo transportados em caixas de papelão, gaiolas e até caixas de ketchup. A major Erika Melcop disse que os suspeitos que respondiam pela carga vão ter de pagar de R$ 400 a R$ 7 mil por cada animal ou filhote (a se considerar o valor mínimo, um total de R$ 206 mil). “Eles cometeram várias ilegalidades nesse caso, porque até violar um ninho já é considerado crime”.
As centenas de filhotes foram retiradas do comércio negro e levadas para o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) criaram uma dificuldade: como alimentar tantos filhotes, ao menos três vezes ao dia? O Ibama fez uma convocação pública por voluntários e a resposta foi rápida: cerca de cem pessoas se apresentaram para auxiliar na tarefa. 
A reunião de voluntários em benefício de animais roubados da natureza é prática frequentemente adotada pelo SOS Fauna. Eles deram apoio ao Ibama em Pernambuco e, em outra grande operação, vão levar para o Mato Grosso do Sul várias papagaios apreendidos e colocados sob os cuidados da ONG.
A apreensão da carga feita em Pernambuco revela outro aspecto preocupante, conta Marcelo Rocha: “As aves estão sendo capturadas na fase de nascimento do papagaio-verdadeiro”. No levantamento foi pelo SOS Fauna, 1.369 filhotes desta espécie foram identificados em sete apreensões. “Em duas dessas ações, as aves estavam com as mesmas pessoas em um período menor que 15 dias”.
A bióloga Juliana Machado Ferreira, pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) disse que nessas apreensões foram encontradas apenas espécies com menos de 10 dias de vida. As aves estão entre os animais mais apreendidos, de acordo com os dados do Cetas em Pernambuco. Em 2010, foram retirados da natureza 5.843 animais. Destes, 5 mil eram aves. De janeiro até o início de outubro, 5.072 animais ingressaram no Cetas, sendo 4.478 aves.